sexta-feira, 16 de junho de 2006

Em defesa do "Velho do Restelo"

Não deve haver na literatura portuguesa personagem mais difamada. Por tudo e por nada chama-se a alguém "Velho do Restelo": "és um velho do Restelo", "só os velhos do Restelo é que pensam assim", "os velhos do Restelo do costume" e por aí fora....

No entanto, esta reputação é de todo imerecida e - não tendo eu feito qualquer investigação sobre o assunto e, por isso, não sabendo da origem da expressão com o sentido que ela tem actualmente -, francamente, só pode ser utilizada por quem não leu com atenção o chamado "Episódio do Velho do Restelo", Canto IV, 94-104, dos Lusíadas, ou por quem deu conta de idênticas dúvidas sobre a chamada "Empresa da Índias" como, por exemplo, Gil Vicente ou Sá de Miranda.


O próprio texto dos Lusíadas, e não entrando aqui em considerando quanto a função e aos antecedentes deste tipo de episódio na história da literatura desde a Antiguidade, em que o Velho do Restelo é apresentado como sendo alguém muito digno : "Mas um velho de aspeito venerando," (Est. 94, v. 1) e "C'um saber só de experiências feito,/Tais palavras tirou do experto peito:" (Est. 94, vv. 7-8).A seguir, o discurso do Velho do Restelo é uma reflexão filosófica sobre a empresa das Índias e que ele condena não por qualquer alergia ao progresso, mas por a considerar apenas comandade pela cobiça e que o custo de tal operação será muito mais elevado do que as suas vantagens, devido às consequências nefastas que terá na sociedade portuguesa.

Também rejeita o fundamento de "dilatar a Fé e o Império", pois se queriam combater o Infiel (os muçulmanos) tinham o Norte de África para o fazer, onde poderiam obter a fama, glória e riquezas que buscavam no Oriente longínquo.

O Velho do Restelo mais do que representar uma facção retrógada, alérgica ao progresso, representa uma parte da sociedade portuguesa, da alta nobreza, que dava, por razões ideológicas (e religiosas), uma importância maior ao nossos domínios no Norte de África, pois era aí que os filhos da alta nobreza normalmente terçavam pela primeira vez as armas.


Em conclusão, o Velho do Restelo não representa uma opinião reaccionária, contra o progresso, mas apenas, uma opinião, bastante ancorada na sociedade portuguesa quinhentista, que duvidava, por diversos motivos, das vantagens da aventura oriental, das conquistas no Índico, chegando-lhe a atribuir as causas da decadência de Portugal. No eloquente discurso (cheio de processos retóricos que remontam a Homero) do Velho do Restelo, misturam-se as ideias de um Humanismo antibelicista, abrindo excepção a este antibelicismo à guerra com os Mouros.Por isso não chamem Velho do Restelo àqueles que se opõe ao progresso ou que são, pura e simplesmente, refractários ao progresso, pois do que se trata aqui é de uma diferente avaliação do deve-haver da aventura imperial na Índia.

5 comentários:

Anónimo disse...

"Conservadorismo é ignorânica."
Já dizia, esse mítico, economista que tanto admiro, prof. Gil Quesado. A inovação e o progresso são a chave da sucesso.

Esquecendo este aparte, confesso que fiquei surpreso ao encontrar esta extraordinária crónica sobre uma importante mas imbecil personagem da mitologia portuguesa. No entanto, a minha supresa reside no cronista. Na minha humilde opinião, esse membro apelidado de Nox, não só é o conservador de serviço, como já ultrapassou o desígnio de "Velho do Restelo". Mais apropriado à sua figura e ao seu rebelde conservadorismo, chegou ao auge da figura mítica, mais alto não pode chegar. O patamar de "VELHA DO RESTELO", assenta-lhe que nem uma luva.
Já dizia o Velho Mazzola: "Por detrás de um homem há sempre uma grande mulher...". Mesmo nos piores casos!

Esta sua crónica caro Nox, surgiu em tempo oportuno, já que a imagem da Velha do Restelo se encontrava em fase de produção, com o objectivo de informar os mais distraídos membros do nosso ilustre blog, sobre o verdadeiro causador da destabilização que o nosso grupo atravessa.

Abraços clandestinos...

Nox disse...

Viva o Velho(a) do Restelo!

Anónimo disse...

Vão mamar na quinta pata do cavalo de Napoleão...

Anónimo disse...

Há gajos com muito tempo disponível e sem nada que fazer!

Nox disse...

É o que dá fazer ponte tio reinaldo.