terça-feira, 22 de abril de 2008

Uma cidade diferente, um povo único...









O exemplo de Guimarães
A existência de uma rede de cidades de dimensão média, cada uma com a sua história, cultura, especificidade e a sua vontade de protagonismo próprio, tem sido apontada como uma força da Região Norte. Os centralistas têm procurado passar a ideia de que a pretensão do Porto em se afirmar como segunda cidade do país colidiria com o desenvolvimento desses pólos. A eventual regionalização, em que o Porto emergiria como a capital da região, apenas reforçaria essa lógica, subalternizando e instrumentalizando os projectos dessas outras cidades.
O Porto estaria para o Norte como Lisboa para o país. Ajudado por erros próprios, esse discurso passou, como se viu no referendo sobre a regionalização, com o resto do Norte a votar, esmagadoramente, contra. Para desfazer aquela ideia, importa alterar o discurso e as práticas. O Porto deve assumir-se como o porta-voz de um modelo de desenvolvimento diferente. Não deve pedir para si, mas reivindicar que se faça de outro modo. No tempo, poderia ter argumentado que, quando foi criada, a Autoridade da Concorrência deveria ficar sediada em Coimbra, onde existem competências naquele domínio. Ou que a Agência de Segurança Marítima ficaria melhor em Aveiro ou Viana do Castelo ou Faro. E, noutros tantos casos, poderia encontrar argumentos para que os beneficiários fossem Bragança, Viseu ou Évora.Perguntar-se-á quem, na ausência de um poder regional, pode falar em nome do Porto? Respondo: todos os actores relevantes, desde os políticos até à sociedade civil. Para isso é preciso ir percorrendo um caminho de construção de consensos sobre o papel do Porto numa nova economia. Se for esse o propósito, ao contrário do que alguns escribas centralistas querem fazer crer, não há discussão ou debates a mais, seja no Porto.

A proposta da Sonae para gerir o aeroporto Sá Carneiro pode, como aqui já argumentei, ser um excelente exemplo do envolvimento interinstitucional e intra-regional que é necessário para dar à região o protagonismo e o dinamismo de que o país precisa. Belmiro de Azevedo anunciou que faz, ainda, parte do seu projecto a afectação, à promoção turística do Norte, do excedente acima do objectivo mínimo de rentabilidade de exploração fixado. Uma excelente proposta, consentânea com a tradição de fazer recair nos ombros da iniciativa privada o dinamismo da economia nortenha e a mostrar que nem só de QREN vive o Norte.Num Norte policêntrico, o Porto será o núcleo de uma rede com pólos fortes, com a sua própria identidade e protagonismo.
Guimarães é, a esse título, um caso a ter em conta. Pela mão do seu discreto presidente da Câmara, António Magalhães, a cidade tem vindo a traçar e concretizar uma estratégia exemplar, traduzida na classificação do seu Centro Histórico como património mundial ou na recuperação e edificação do Centro Cultural Vila Flor. A designação de Guimarães para capital europeia da cultura em 2012 é, por uma vez, um acto de justiça. Que ao mesmo tenha estado ligada uma ministra natural de Braga não deixa de ser simbólico de uma nova mentalidade que ultrapassa invejas serôdias, alimentadas, durante muitos anos, pelo Poder Central.Em paralelo, o desempenho desportivo do Vitória local tem dado à cidade uma visibilidade mediática que de outro modo, provavelmente, não teria.

Para além da sensacional carreira da sua equipa de futebol, o Vitória ganhou, recentemente, a Taça de Portugal de Basquetebol e o Campeonato de Voleibol. A forma como conseguiu estes dois títulos demonstra uma vontade de vencer, uma unidade de grupo e uma orientação paradigmática. No basquetebol, a perder por 6 pontos a pouco tempo do fim, conseguiu, ainda assim, dar a volta ao resultado, ganhando a um Porto sobranceiro e displicente, tudo isto já depois de ter eliminado o campeão nacional. No voleibol, a perder 2-1 em jogos e 2-0 em sets, conseguiu vencer os 3 sets seguintes, empatar a final e ir ganhar, a casa do adversário, o último jogo e o respectivo campeonato. É desta vontade de prosseguir um projecto próprio, desta determinação, deste acreditar, deste espírito guerreiro que nunca desiste que a região precisa. Se o exemplo de Guimarães puder ser emulado e frutificar noutras cidades, a região só fica a ganhar.
Declaração de interesses portista e natural de Braga (o meu segundo clube, cuja vergonhosa desorientação está nos antípodas do Vitória), não me poderão acusar de parcialidade no que acima ficou escrito.


Alberto Castro, professor universitário, escreve no JN, semanalmente às terças-feiras.


3 comentários:

Anónimo disse...

Lindo!!!!!!!!!!!!!!!!

Anónimo disse...

A meu ver, a oposição intimidou a classe eleitora com falsos prenúncios do que seria realmente a regionalização. Hoje, talvez se pague por aqilo que não fizemos na altura. Se bem que, na altura, não achei a divisão das províncias como a mais correcta. Acho que em vez de 8 ou 12 regiões, a regionalização haveria de se focar em 3 regiões. Norte, Centro e Sul.

Aproveito a ocasião para lançar o aviso de que já se encontra disponível o novo meio de comunicação do Regime! A Consulta Clandestina encontra-se em pleno funcionamento e espera-se, que seja do agrado dos ilustres. Mais uma vez, o Regime impressiona com mais uma atitude democrática a dar voz a quem a faz por merecer, escutando a voz do povo clandestino.
Estas consultas serão efectudas semanalmente, e espera-se que sejam bastante concorridas.

Anónimo disse...

Vamos construir uma muralha na margem do Mondego, e não passa nada.....

Guimarães alé Guimarães alé
Guimarães aléeeeeeeeeeeeeeee