segunda-feira, 26 de abril de 2010

Ainda existem valores em Portugal!


Acho particularmente importante esta leitura que aqui vos deixo. Desde logo porque vivemos tempos de uma crise de valores nunca vista, principalmente em Portugal em que o chico-espertismo se elevou ao patamar de ciência ou até de religião. Todos os dias vemos notícias de merda, de uma comunicação social de merda (peço desculpa pela linguagem mas impunha-se, qualificativo mais brando era imerecido) e as notícias verdadeiramente importantes, capazes de dar esperança aos (poucos) que ainda acreditam na rectidão e na integridade são propositadamente omitidas porque... não vendem. Num País com tanta gente sem escrúpulos, a começar por quem nos governa, o exemplo de Ramalho Eanes teria um valor inestimável, se fosse publicitado. Ao mundo Clandestino deixo aqui o sucedido, para que tirem as ilações que entenderem. Um homem com H grande, num País de anões...



António Ramalho Eanes, o “anti-devorista”


por Paulo Gaião

2008-09-19 01:20



Ao longo da história portuguesa, muitos heróis fizeram-se pagar em dinheiro pelos serviços em prol da liberdade, não se importando com a questão ética e com o empobrecimento dos cofres públicos. Eanes não. A recusa de Ramalho Eanes em receber uma indemnização de mais de um milhão de euros por parte do Estado é uma matéria que, num país com uma comunicação social mais independente e sensibilizada para a crise não só económica como moral em que o país se encontra há muitos anos, merecia a entrada de um telejornal. A notícia soube-se no sábado. Em vez de Eanes, os telejonais abriram com Ronaldo no sábado e com Madonna no domingo, sinais da voracidade em relação ao dinheiro, que está na origem da decadência das sociedades modernas, como bem recordou Bento XVI em França, no passado fim-de-semana , e da mediocridade dos tempos, em que são os futebolistas e as estrelas rock que têm génio, como já observava Robert Musil nos anos 30 em relação aos cavalos e, curiosamente, já em relação às estrelas da bola, anunciando o esmagamento da cultura e dos espíritos superiores. A história conta-se rapidamente. Em virtude de um decreto-lei de 1984, feito no tempo de um governo de Mário Soares, ao que se diz elaborado com propósitos políticos revanchistas, os presidentes da República deixavam de poder acumular a reforma respectiva com quaisquer outras reformas ou pensões do Estado. A lei pareceu feita à medida de Eanes, o único presidente eleito desde 1976 e não com intuitos de moralização pública. Eanes, apesar de bem perceber que a lei era feita à sua medida, dois anos antes de abandonar o Palácio de Belém e não se poder recandidatar, promulgou-a, o que mostra uma elevação de espírito absolutamente ímpar e uma abnegação patriótica única. Cavaco Silva, quando chegou há dois anos a Belém, levou esta questão antiga para resolver. O actual Presidente da República pode ter muitos defeitos mas rege-se por padrões éticos e morais que são muito semelhantes aos de Eanes. Cavaco não descansou enquanto não levou o governo a rever esta injustiça em relação a Eanes. Habituado a ver muitos a serem compensados pecuniariamente sem motivo ou com razões forçadas, Cavaco deve ter achado que com Eanes tinha de se ressarcir uma situação única de injustiça, sendo a única via a patrimonial. Enviados do próprio governo terão falado com a família Eanes em privado. A ideia do executivo era não só alterar a lei, como fazê-lo retroactivamente, beneficiando Eanes e reparando uma injustiça. Porém, Eanes, recusou a indemnização, num valor que, com os juros elevados, lhe daria mais do que uma reforma de Presidente da República. Num país onde, ao longo de muitos momentos da história portuguesa, até os heróis se aproveitaram desta condição para terem títulos, empregos, indemnizações, Ramalho Eanes é um exemplo único que, quando a história pousar, lá para o final do século XXI, princípios do século XXII, e os princípios mais belos da civilização humana renascerem, há-de ser admirado pela sua rectidão e patriotismo. Por exemplo, os heróis da revolução liberal de 1834, apesar de todo o misticismo que anda à volta do seu papel, aproveitaram a situação para enriquecerem e aumentarem o seu património, à custa dos cofres públicos, com esse escândalo nacional que foi a venda, a troco de títulos de indemnização pelos serviços liberais prestados, de milhares de prédios expropriados às ordens religiosas, num processo que, curiosamente, tem semelhanças com o que aconteceu com o desmantelamento da URSS, quando alguns oligarcas comparam títulos e ficaram detentores de grandes negócios, como o petróleo. Vasco Pulido Valente, num livro que escreveu, chamou-lhes mesmo a estes heróis liberais, que hoje dão nome a muitas ruas de Lisboa, os "devoristas". Após a consolidação da democracia portuguesa, também muitos heróis se aproveitaram da situação para obterem bons cargos, boas pensões, uma boa rede de conhecimentos e influências para os seus negócios, fazendo-se pagar pelo seu papel na defesa da liberdade. Com a entrada de Portugal na economia de mercado, depois das expropriações comunistas do PREC, também se indemnizaram muitos grupos económicos que se consideravam vitimas da situação. O Estado voltou a ficar sacrificado, empobrecendo. Com a agravante de, nalgumas situações, os grupos económicos terem sido reinvestidos nos seus bens e valores e depois terem vendido tudo aos estrangeiros, como aconteceu com a venda do Totta ao Santander, por António Champalimaud. Eanes, um homem que participou no 25 de Abril e que fez o 25 de Novembro teve tudo nas mãos. Se não fosse a figura ímpar que é, podia ter sido um ditador, espalhando um banho de sangue em Portugal, ou um "devorista", fazendo-se pagar bem caro pelo preço da liberdade e da democracia que garantiu ao país. Não foi uma coisa nem outra. É só um homem íntegro e um Patriota. À semelhança de Eanes, faça-se também justiça aos militares deAbril. Quando se fizer a história, há-de chegar-se à conclusão que poucos enriqueceram, o que é mais um feito notável, num país que quase sempre foi gerido com base num rancho que era preciso servir.

4 comentários:

Amil disse...

Bem, eu ia escrever umas palavritas quando li o texto, mas depois pensei. Naaa vou dar um tempito e ver o que diz a malta.
E o resultado foi exactamente o que eu esperava. NINGUÉM COMENTOU!
E esta é a melhor prova de que o grande mal de Portugal é cultural, e não adianta andar a atirar as culpas para a comunicação social ou para os ordenados dos altos quadros, ou meia dúzia de xupistas que andem praí.

Podia bem ter aparecido gente a dizer que o Ramalho Eanes é um exemplo de cidadão, ou até que ele já ganhou muito com o 25 de Abril, ou outra merda qualquer, mas comentar um acto positivo quer tivessem sido comentários num sentido ou noutro, ninguém o fez.
É a realidade. O bem, o positivo, o optimismo não tem lugar no nosso país. Desculpem! só tem lugar se jogar a selecção nacional, ainda para mais a que joga com mais estrangeiros de sempre.

Mas este Portugal foi o Portugal que os assassinos de Outubro quiseram. Um país de mamas grandes, onde poucos chegam aos mamilos, um país onde se valoriza o mal do próximo para estabilidade do próprio, um país onde primeiro existem direitos e depois deveres, um país que ignora a história (com raras excepções que mudaram de facto a história mundial), um país de egoístas e egocêntricos, um país que adopta a bandeira de um partido como bandeira nacional... e por aqui me fico.

Foi isto que semearam, é isto que colhem. Desinteresse nacional, ausência de valores nacionais, valorização do "eu" em vez do "nós", e um geral "estou-me a cagar"!

Por favor, alguém nos ensine o que é Portugal, o que é bom para nós, o que fará de nós melhores do que aquilo que somos, alguém nos abra os olhos para o que nos faz bem, nos torna distintos e mais fortes, alguém nos valorize e nos torne um povo positivo e ambicioso.

Eu sei quem é esse alguém!

jm, em concordância quase absoluta disse...

Caro Amil, também eu estava a dar um tempinho para vir igualmente dizer algo muito próximo do que escreveste pelo que subscrevo quase na íntegra o teu comentário. Realmente, e como disse no texto, não vende falar dos bons exemplos ou de qualquer coisa que moralize o País. Infelizmente o blog neste ponto revelou-se uma fidedigna imagem do nosso povo. Não estou a criticar ninguém, estou somente a constatar um facto que se tem revelado insistentemente nos últimos tempos: perdeu-se a esperança de que as coisas mudem, a meritócracia (americana, alemã,...) não tem lugar em Portugal e a esperança que algum dia o venha a ter parece tão ténue que ninguém sequer ousa acreditar ser possível. O chico-espertismo banalizou-se e a ética e correcção é para os "otários". Portugal assim vai caminhando lentamente para um abismo do qual não sairá, a crise de valores está instalada e é evidente, o que interessa é fado, fátima e futebol (e uns subsídios que é uma vertente inovadora do tema nos tempos que correm), tudo o resto pouco importa. Caros Clandestinos, façamos pelo menos nós um esforço para sairmos deste marasmo pantanoso e comecemos a dar o exemplo comentando, insurgindo-nos, apoiando o que achámos correcto. Não cedámos também nós ao conformismo de que somente os corrupros vencem na vida pois isso terá inevitavelmente que mudar sob pena de Portugal deixar de ser um País da zona euro, por exemplo, e será nessa altura que aqueles que lutaram contra este estado de coisas serão recompensados. Façamos deste blog mais do que uma mesa de café onde se fala de futebol e mulheredo e falemos o País, falemos o povo, falemos os valores pois acredito que não somos feitos da mesma massa pútrida de que são feitos os milhões de conformistas que por aqui habitam.
Um abraço a todos...

Nuno disse...

Tens razão Amil!
Se o post fosse sobre os boxers do CR9 existiam mais comentarios.

Há uma crise de valores e isso é real. É uma pena que a comunicação social ache que as pessoas de valor nao dão audiencias...

E falando de coisas sérias, que é que se diz sobre a crise financeira instalada em PT? Somos os próximos a seguir à Grécia? Aqui em Espanha começa a sentir-se algum medo porque acham que depois de Portugal vai ser a vez de Espanha. Qual é o feeling ai?

Amil disse...

Porque mudar atitudes, e comportamentos é o que nos molda culturalmente como povo e essa responsabilidade está em cada um de nós, eu a partir de agora só comento noticias que tenham algo de positivo.
A vontade que tenho neste momento é de não comentar mais más noticias, mais assuntos negativos, problemas, mortes, crises, injustiças e por aí fora.
Vou-me dedicar exclusivamente as actualidades positivas, boas perspectivas de futuro, recuperações financeiras, tecnologia, avanços na saúde, contratações no Vitoria, and soyon and soyon.

There´s a new me out there.
Be aware