quarta-feira, 13 de abril de 2011

Pressão “injusta” dos mercados obrigou Portugal a pedir ajuda de que não precisava

Portugal não necessitaria de um resgate se não tivesse ficado sob uma pressão “injusta a arbitrária” dos mercados, afirma o sociólogo Robert M. Fishman, da Universidade de Notre Dame, nos EUA. (Miguel Manso (arquivo)) Esta ideia é defendida na coluna de opinião de Fishman desta semana no New York Times, onde diz também que o pedido de ajuda de Portugal à União Europeia e ao FMI deve ser visto como “um aviso às democracias em todo o lado”.Robert M. Fishman, cuja actividade de investigação se dedica a tópicos como democracia e práticas democráticas ou as consequências da desigualdade, o pedido de ajuda de Portugal “não é na verdade por causa da dívida”.Apesar de o país ter apresentado “um forte desempenho económico nos anos 1990 e estar a gerir a sua recuperação da recessão global melhor do que vários outros países na Europa”, ficou sob a pressão “injusta a arbitrária dos negociantes de obrigações, especuladores e analistas de crédito”, que “por vistas curtas ou razões ideológicas” conseguiram “fazer cair um governo eleito democraticamente e potencialmente atar as mãos do próximo”.Fishman sublinha que a crise em Portugal é “completamente diferente” das vividas pela Grécia e pela Irlanda, e que as “instituições e políticas económicas” tinham “alcançado um sucesso notável” antes de o país ter sido “sujeito a ataques sucessivos dos negociantes de obrigações”.Nota que a dívida pública é bastante inferior à italiana e que o défice orçamental foi inferior ao de várias outras economias europeias e avança duas hipóteses para o comportamento dos “mercados”: cepticismo ideológico dobre o modelo de economia mista (publica e privada) vigente até agora em Portugal e/ou falta de perspectiva histórica.“Os fundamentalistas do mercado detestam as intervenções de tipo keynesiano em áreas da política de habitação em Portugal – que evitou uma bolha e preservou a disponibilidade de rendas urbanas de baixo custo – e o rendimento assistencial aos pobres”, diz ainda Fisherman no seu texto, intitulado “O resgate desnecessário a Portugal”.Neste cenário, acusa as agências de notação de crédito (rating) de, ao “distorcerem as percepções do mercado sobre a estabilidade de Portugal”, terem “minado quer a sua recuperação económica, quer a sua liberdade política”.E conclui que o destino de Portugal deve constituir “um claro aviso para outros países, incluindo os Estados Unidos”, pois é possível que o ano em curso marque o início de uma fase de “usurpação a democracia por mercados desregulados”, e em que as próximas vítimas potenciais são a Espanha, a Itália ou a Bélgica, num contexto em que os governos têm “deixado tudo aos caprichos dos mercados de obrigações e das agências de notação de crédito”.

3 comentários:

jm disse...

Já tinha lido isto e, pese embora concorde com alguns pontos não posso deixar de dizer o que é evidente: porque não vão eles fazer isto à holanda, suécia, etc? Não estaremos sob fogo porque passamos os últimos 30 anos a esbanjar dinheiro a subsidiar a preguiça e a moleza? Está demasiada coisa errada neste País para se dizer que são os papões das agências de notação que querem destruir Portugal...

Nox disse...

Tenho um amigo que está no meio financeiro e há um ano, numa destas conversas de café, previa esta pressao sobre a Grecia e Portugal (esqueceu-se da Irlanda), e Espanha. A teoria dele consistia no facto de que o Euro estava a ter muito poder face ao Dolar e que era necesario que o Dolar começasse a ganhar maior relevancia também para competir com o maior dominio chines (e com o dinheiro que os EUA têm ali). Então todas estas companhias financeiras e americanas de rating estão ao serviço dos EUA e a ajudar a destruir o dolar através dos paises mais fracos e debeis.
É muito mais facil destruir Portugal, Grécia, etc que uma Holanda. Tem lógica!

Só espero que não ataquem a Espanha porque com a colonização economica feita por Espanha a Portugal nos ultimos anos, iriamos ter uma crise ainda mais aguda!

Sá Rocha disse...

É assim, claro que não vão atacar a Holanda e a Suécia porque eles não têm a dívida pública, em % do PIB, que nós temos. Tens que comparar com países na mesma situação. A Itália por exemplo, têm uma dívida pública, em % do PIB, bem superior à nossa. E ninguém fala dela. A Bélgica (salvo o erro) tb.

O que os mercados dizem é que Portugal não tem perspectivas de crescimento económico. O que é verdade, se a economia não cresce o estado não consegue arrecadar receitas para pagar a dívida. O problema é que se obrigas um país a pagar taxas de juro de 10% então o estado não tem hipótese de tentar puxar pela economia. E todos os recursos do país irão ser arrecadados para pagar a dívida e não para o desenvolvimento económico. Entras num círculo vicioso de estagnação e dívida pública.

O que o Nuno diz não me admirava que fosse verdade...