Atrasado mas com muito AMOR...

Notas arrepiantes de uma melodia tantas vezes ouvida na televisão. Mal Olegário Benquerença apitou para o fim do jogo, ecoou por todo o estádio o hino da Liga dos Campeões.
Cachecóis ao alto, numa nuvem prazenteira de fé e devoção pela causa vitoriana. Jogadores envolvidos num longo abraço, bancadas efervescentes, ambição diáfana numa noite tão doce e especial no Dom Afonso Henriques.

Espadas erguidas, escudos empunhados. O ataque à Europa do futebol começa agora. Em trejeitos de conquista, em ritmos quentes, o público vitoriano exalou felicidade, suspirou de pueril comoção e debruçou-se sobre os novos heróis da Cidade-Berço.
O Manel, Cajuda, atirou a gravata aos seus seguidores, correu para o balneário e, certamente, chorou. Chorou as lágrimas mais melosas da sua carreira. Afinal, esta é a sua melhor temporada de sempre. Nunca antes este algarvio chegara ao pódio do campeonato nacional. Dêem-lhe champanhe, uma coroa de flores, tudo o que ele quiser e nada menos do que isso.

Um mergulho no verde campo dos sonhos¿
Kamel Ghilas, argelino, esvoaçou pelo relvado com a bandeira do seu país. Foi super-herói, deu asas ao desejo de vitória neste cantinho encravado entre a Europa e o salgado oceano.
Desmarets despiu-se de preconceitos. Tirou camisola, os calções já lá não estavam e correu. Deu cambalhotas, esperou pelo técnico que o projecta, mais do que nunca, neste planeta-futebol.
Cajuda voltou à relva, foi trapezista na rede sustentada pelos braços dos atletas. Camisa por fora das calças, batimentos loucos num coração que mais não poderia pedir. Então, aqui vai disto. Um mergulho no verde campo dos sonhos e mais um piscar de olho à imortalidade nas quase 30 mil almas que vieram à bola.

Festa e recorde, tudo no saco vitoriano
Num palco tão especial, num cenário de partilha intensa, ainda houve alguém que se lembrasse de um recorde. Pois bem, confirma-se.
Nunca antes algum clube vindo da segunda divisão alcançou o terceiro lugar no escalão maior. Antes do Vitória o fazer, o Barreirense possuía a melhor das marcas. Em 1969/70, o clube da margem sul do Tejo chegou à primeira divisão e acabou em quarto.
38 anos depois, o Vitória de Guimarães pode gabar-se de alcançar algo nunca antes conseguido na história do futebol português.