Os velhos ditadores e o regime
Por vítor serpa
...Também assim deveria ser no futebol, mas não é. Os pequenos e médios clubes vivem despersonalizados e limitam-se a implorar, com indisfarçada ansiedade, a protecção dos grandes. Na impossibilidade de os imitarem na sua relativa grandeza, copiam os seus vícios. Esperam por jogadores emprestados como um cachorro espera o osso do dono. Aceitam treinadores indicados especialmente pelos seus tutores. Aprovam tratos de fidelidade e obediência, na esperança de que o seu protector os defenda de todos os males da terra. Julgam que só assim poderão sobreviver. Não percebem, sequer, que já estão mortos.A rara manifestação de autonomia é vista como uma condenável insubordinação. O mais natural desejo de personalização e de independência é considerado um crime de subversão do sistema. Os clubes grandes impõem vontades, políticas, jogadores, técnicos, e ainda se servem dos seus satélites como infantaria pronta a morrer pelos interesses que nem sequer são os seus.O futebol português tem vivido nos últimos anos estagnado à conta da guerra fria das suas pindéricas superpotências. Esgotado de gente com qualidade e paciência para lutar contra este estado de coisas. Alheio ao tempo e à realidade do mundo.Não diria que não há gente no futebol profissional com a noção de que é preciso acabar com o tempo dos ditadores e mudar, enfim, de regime. Falta-lhes força e oportunidade, mesmo quando não lhes falta coragem. Esperam que, um dia, a história se repita e que os ditadores acabem por cair da cadeira.
in a bola
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