IN "CORREIO DA MANHÃ"
2 de Fevereiro 2010 - 00h30
Crónica: Diário recusou publicar texto
Mário Crespo acusa ‘censura’
Mário Crespo acusa o primeiro-ministro, José Sócrates, e dois membros do Governo de o terem classificado como "um problema" a precisar de solução. E acrescenta que à conversa assistiu, sem "contraditar", um executivo de TV, que o CM sabe ser o director de programas da SIC, Nuno Santos.O caso estava descrito na habitual crónica de Crespo para o ‘Jornal de Notícias’ (ver página 2), mas, perante a recusa do diário em publicar o texto, este acabou por sair no site do Instituto Sá Carneiro.Ao CM, Mário Crespo refere ter sido avisado no domingo à noite por José Leite Pereira, director do ‘JN’, de que o texto não sairia. 'Não publicar uma crónica é muito grave, e o conteúdo dessa crónica também é muito grave', nota o pivô da SIC Notícias, que deixa de colaborar com aquele diário.O jornalista conta ainda ao CM que teve conhecimento da conversa entre os ministros e Nuno Santos através de um 'e-mail. Recebi--o no dia seguinte ao encontro. Confirmei que era fidedigno e tirei as minhas conclusões'.Contactado pelo CM, o director do ‘JN’ remete para um comunicado em que explica que a crónica 'não era um simples texto de opinião, mas fazia referências a factos'. Também o gabinete do primeiro--ministro recusou comentar.
PORTAS DEFENDE JORNALISTA
Paulo Portas, do CDS, classificou Mário Crespo como um 'jornalista profissional e com independência. Nenhum dos qualificativos que ouvi por aí se lhe aplica.' Já o regulador dos Media, ERC, não tem 'uma posição sobre o assunto', mas, 'caso venha a existir uma queixa, ela será apreciada'.
NUNO SANTOS E BÁRBARA À CONVERSA COM MINISTROS
José Sócrates, Pedro Silva Pereira e Jorge Lacão encontraram Nuno Santos e Bárbara Guimarães, casada com o socialista Manuel Maria Carrilho, a terminar um almoço no Hotel Tivoli, em Lisboa, sabe o CM. Enquanto circulavam à volta do buffet, José Sócrates e Nuno Santos falaram de Mário Crespo, jornalismo, política, do programa ‘Ídolos’ e até de férias. Enquanto trocavam palavras, alguém ouviu a conversa e transcreveu-a num e-mail, posteriormente enviado ao jornalista. Nuno Santos já terá explicado o sucedido a Mário Crespo.
PERFIL
Mário Crespo nasceu há 63 anos em Coimbra. Iniciou-se como jornalista na África do Sul. Fez carreira na RTP, onde foi correspondente nos EUA. Mudou para a SIC, onde se mantém. Vai lançar o livro ‘A Última Crónica’.Isabel Faria/Márcia Bajouco01 Fevereiro 2010 - 14h54 "
IN CORREIO DA MANHÃ DE HOJE 1 DE FEVEREIRO DE 2010
"Jornalista revela conversa do Governo
Mário Crespo denuncia ataque do Governo
O jornalista da SIC Notícias Mário Crespo denuncia esta segunda-feira, num artigo publicado no site do Instituto Francisco Sá Carneiro, ter sido o centro de uma conversa entre José Sócrates, Jorge Lacão e Pedro Silva Pereira, na qual terá sido descrito como "mentalmente débil".No texto, intitulado 'O Fim da Linha', Mário Crespo afirma que a conversa ocorreu no dia 26 de Janeiro, dia da entrega do Orçamento no Parlamento, num hotel de Lisboa. À mesa estavam o primeiro-ministro, o ministro dos Assuntos Parlamentares, que tem a tutela da Comunicação Social, o ministro da Presidência e um executivo de televisão, que o jornalista não identifica. 'Fui o epicentro da parte mais colérica de uma conversa claramente ouvida nas mesas em redor. Sem fazerem recato, fui publicamente referenciado como sendo mentalmente débil ('um louco') a necessitar de ('ir para o manicómio'). Fui descrito como 'um profissional impreparado', pode ler-se no texto.Mário Crespo vai mais longe nas revelações e revela que o definiram 'como 'um problema' que teria de ter 'solução'. O jornalista adianta que confirmou o teor da conversa em que foi mencionado, transcrevendo a opinião de uma das suas fontes sobre a conversa. 'O PM (primeiro-ministro) tem qualidades e defeitos, entre os quais se inclui uma certa dificuldade para conviver com o jornalismo livre', afirma a fonte, cuja identidade Mário Crespo não revela.Mário Crespo não poupa críticas à relação entre o poder e os meios de comunicação social. 'Em sociedades saudáveis os contraditórios são tidos em conta. Executivos saudáveis procuram-nos e distanciam-se dos executores acríticos venerandos e obrigados', escreve o jornalista, acrescentando que 'nas lideranças decadentes os contraditórios são considerados ofensas, ultrajes e produtos de demência'.O jornalista ataca, dizendo que 'Portugal, José Sócrates, Pedro Silva Pereira, Jorge Lacão e com o executivo de TV que os ouviu sem contraditar, tornou-se uma sociedade insalubre'.Mário Crespo faz ainda uma análise de 2010, entendendo que 'o primeiro-ministro já não tem tantos 'problemas' nos media como tinha em 2009'. O final do ‘Jornal de Sexta' da TVI e o afastamento de Manuela Moura Guedes, a saída de José Eduardo Moniz da TVI, a demissão do director do Público, José Manuel Fernandes, são algumas dos alegados problemas resolvidos no ano passado que o jornalista descreve. 'Agora, que o 'problema' Marcelo Rebelo de Sousa começou a ser resolvido na RTP, o Primeiro-ministro de Portugal, o Ministro de Estado e o Ministro dos Assuntos Parlamentares que tem a tutela da comunicação social abordam com um experiente executivo de TV, em dia de Orçamento, mais 'um problema que tem que ser solucionado', termina Mário Crespo a sua crónica, não fugindo ao comentário 'Que perigosa palhaçada'.C. M. F.
O palhaço
2009-12-14
O palhaço compra empresas de alta tecnologia em Puerto Rico por milhões, vende-as em Marrocos por uma caixa de robalos e fica com o troco. E diz que não fez nada. O palhaço compra acções não cotadas e num ano consegue que rendam 147,5 por cento. E acha bem.O palhaço escuta as conversas dos outros e diz que está a ser escutado. O palhaço é um mentiroso. O palhaço quer sempre maiorias. Absolutas. O palhaço é absoluto. O palhaço é quem nos faz abster. Ou votar em branco. Ou escrever no boletim de voto que não gostamos de palhaços. O palhaço coloca notícias nos jornais. O palhaço torna-nos descrentes. Um palhaço é igual a outro palhaço. E a outro. E são iguais entre si. O palhaço mete medo. Porque está em todo o lado. E ataca sempre que pode. E ataca sempre que o mandam. Sempre às escondidas. Seja a dar pontapés nas costas de agricultores de milho transgénico seja a desviar as atenções para os ruídos de fundo. Seja a instaurar processos. Seja a arquivar processos. Porque o palhaço é só ruído de fundo. Pagam-lhe para ser isso com fundos públicos. E ele vende-se por isso. Por qualquer preço. O palhaço é cobarde. É um cobarde impiedoso. É sempre desalmado quando espuma ofensas ou quando tapa a cara e ataca agricultores. Depois diz que não fez nada. Ou pede desculpa. O palhaço não tem vergonha. O palhaço está em comissões que tiram conclusões. Depois diz que não concluiu. E esconde-se atrás dos outros vociferando insultos. O palhaço porta-se como um labrego no Parlamento, como um boçal nos conselhos de administração e é grosseiro nas entrevistas. O palhaço está nas escolas a ensinar palhaçadas. E nos tribunais. Também. O palhaço não tem género. Por isso, para ele, o género não conta. Tem o género que o mandam ter. Ou que lhe convém. Por isso pode casar com qualquer género. E fingir que tem género. Ou que não o tem. O palhaço faz mal orçamentos. E depois rectifica-os. E diz que não dá dinheiro para desvarios. E depois dá. Porque o mandaram dar. E o palhaço cumpre. E o palhaço nacionaliza bancos e fica com o dinheiro dos depositantes. Mas deixa depositantes na rua. Sem dinheiro. A fazerem figura de palhaços pobres. O palhaço rouba. Dinheiro público. E quando se vê que roubou, quer que se diga que não roubou. Quer que se finja que não se viu nada.Depois diz que quem viu o insulta. Porque viu o que não devia ver.O palhaço é ruído de fundo que há-de acabar como todo o mal. Mas antes ainda vai viabilizar orçamentos e centros comerciais em cima de reservas da natureza, ocupar bancos e construir comboios que ninguém quer. Vai destruir estádios que construiu e que afinal ninguém queria. E vai fazer muito barulho com as suas pandeiretas digitais saracoteando-se em palhaçadas por comissões parlamentares, comarcas, ordens, jornais, gabinetes e presidências, conselhos e igrejas, escolas e asilos, roubando e violando porque acha que o pode fazer. Porque acha que é regimental e normal agredir violar e roubar.E com isto o palhaço tem vindo a crescer e a ocupar espaço e a perder cada vez mais vergonha. O palhaço é inimputável. Porque não lhe tem acontecido nada desde que conseguiu uma passagem administrativa ou aprendeu o inglês dos técnicos e se tornou político. Este é o país do palhaço. Nós é que estamos a mais. E continuaremos a mais enquanto o deixarmos cá estar. A escolha é simples.Ou nós, ou o palhaço.
A cabeça do polvo
2009-11-09
O sistema judicial português enfrenta o imenso desafio de não deixar que o Face Oculta se torne numa segunda Casa Pia. Até aqui o processo tem tido um avanço modelar. Não houve interferências políticas. Lopes da Mota não veio de Bruxelas discutir com os seus pares metodologias de arquivamento e, no que foi uma excelente janela de oportunidade de afirmação de independência, não havia sequer Ministro da Justiça na altura em que o País soube da enormidade do que se estava a passar no mundo da sucata. Mas, há ainda um perturbante sinal de identidade com a Casa Pia. É que o único detido, até aqui, é o equivalente ao Bibi e Manuel Godinho, o sucateiro, no mundo da alta finança política não pode ser muito mais do que Carlos Silvino foi no mundo da pedofilia. Ambos serviram amos exigentes, impiedosos e conhecedores que tentaram, e tentam, manter a face oculta. É preciso ter em mente que as empresas públicas são organizações complexas. Foram concebidas para ser complicadas. Com os tempos foram-se tornando cada vez mais sinuosas. Nas EPs, as tecnoestruturas, que Kenneth Galbraith identificou e descreveu como o cancro das grandes organizações, ocupam tudo e têm-se multiplicado, imunes a qualquer conceito de racionalidade democrática, num universo onde não conta o bom senso ou a lógica de produtividade. Parecem ter um único fim: servirem-se a si próprias. Realmente já não são fiscalizáveis. Nas zonas onde era possível algum controlo foram-se inventando compartimentos labirínticos para o neutralizar, com centros de custos onde se lançam verbas no pretexto teórico de elaborar contabilidades analíticas, mas cujo efeito prático é tornar impenetráveis os circuitos por onde se esvai o dinheiro público. Há sempre mais um campo a preencher em formulários reinventados constantemente onde as rubricas de gente que de facto é inimputável são necessárias para manter os monstros a funcionar. Sem controlo eficaz, nas empresas públicas é possível roubar tudo. Uma resma de papel A4, uma caneta BIC, um milhão de Euros, uma auto-estrada ou uma ponte. Tudo isto já foi feito. Por isso mais de metade do produto do trabalho dos portugueses está a fugir por esse mundo soturno que muito poucos dominam. Por causa disso, grande parte do património nacional é já propriedade dos conglomerados político-financeiros que hoje controlam o País. Por tudo isto é inconcebível que Manuel Godinho tenha sido o cérebro do polvo que durante anos esteve infiltrado nas maiores empresas do Estado. Ele nunca teria conhecimentos técnicos para o conseguir ser. Houve quem o mandasse fazer o que fez. Godinho saberá subornar com de sacos de cimento um Guarda-republicano corrupto ou disfarçar com lixo fedorento resíduos ferrosos roubados (pags 8241 e 8244 do despacho judicial). Saberá roubar fio de cobre e carris de caminho de ferro. Mas Godinho não é mais do que um executor empenhado e bem pago de uma quadrilha de altos executivos, conhecedores do sistema e das suas vulnerabilidades, que mandou nele. É preciso ir aos responsáveis pelas empresas públicas e aos ministérios que as tutelam. Nas finanças públicas, Manuel Godinho não é mais do que um Carlos Silvino da sucata. Se se deixar instalar a ideia de que ele é o centro de toda a culpa e que morto este bicho está morta esta peçonha, as faces continuarão ocultas. E a verdade também.
Excertos de textos publicados no mural do facebook "FÃS DO MÁRIO CRESPO E DAS SUAS CRÓNICAS DO JN".
Isto só é verdadeiramente preocupante porque está a acontecer em Portugal e o povinho a assobiar para o lado como se nada fosse. Aliás, em conversa com algumas pessoas bem colocadas no sistema bancário português, a que tive o privilégio de assistir por mero acaso (estava a acompanhar outra pessoa), fiquei deveras preocupado com as perspectivas de futuro da nossa economia. Pelo que ouvi espera-se a todo o momento um caso como a argentina, em que o país foi à bancarrota e ficou tudo sem tusto. É verdade que estamos na união europeia mas fiquei de sobremaneira preocupado com algumas coisas que ouvi...
Depois veremos o que os artistas que nos governaram em 12 dos últimos 15 anos têm a dizer...
ps.: Já agora aqui fica transcrito na íntegra o texto censurado de autoria do Mário Crespo:
O Fim da Linha
Mário Crespo
Terça-feira dia 26 de Janeiro.
Dia de Orçamento. O Primeiro-ministro José Sócrates, o Ministro de Estado Pedro Silva Pereira, o Ministro de Assuntos Parlamentares, Jorge Lacão e um executivo de televisão encontraram-se à hora do almoço no restaurante de um hotel em Lisboa. Fui o epicentro da parte mais colérica de uma conversa claramente ouvida nas mesas em redor. Sem fazerem recato, fui publicamente referenciado como sendo mentalmente débil (“um louco”) a necessitar de (“ir para o manicómio”). Fui descrito como “um profissional impreparado”. Que injustiça. Eu, que dei aulas na Independente. A defunta alma mater de tanto saber em Portugal. Definiram-me como “um problema” que teria que ter “solução”. Houve, no restaurante, quem ficasse incomodado com a conversa e me tivesse feito chegar um registo. É fidedigno. Confirmei-o. Uma das minhas fontes para o aval da legitimidade do episódio comentou (por escrito): “(…) o PM tem qualidades e defeitos, entre os quais se inclui uma certa dificuldade para conviver com o jornalismo livre (…)”. É banal um jornalista cair no desagrado do poder. Há um grau de adversariedade que é essencial para fazer funcionar o sistema de colheita, retrato e análise da informação que circula num Estado. Sem essa dialéctica só há monólogos. Sem esse confronto só há Yes-Men cabeceando em redor de líderes do momento dizendo yes-coisas, seja qual for o absurdo que sejam chamados a validar. Sem contraditório os líderes ficam sem saber quem são, no meio das realidades construídas pelos bajuladores pagos. Isto é mau para qualquer sociedade. Em sociedades saudáveis os contraditórios são tidos em conta. Executivos saudáveis procuram-nos e distanciam-se dos executores acríticos venerandos e obrigados. Nas comunidades insalubres e nas lideranças decadentes os contraditórios são considerados ofensas, ultrajes e produtos de demência. Os críticos passam a ser “um problema” que exige “solução”. Portugal, com José Sócrates, Pedro Silva Pereira, Jorge Lacão e com o executivo de TV que os ouviu sem contraditar, tornou-se numa sociedade insalubre. Em 2010 o Primeiro-ministro já não tem tantos “problemas” nos media como tinha em 2009. O “problema” Manuela Moura Guedes desapareceu. O problema José Eduardo Moniz foi “solucionado”. O Jornal de Sexta da TVI passou a ser um jornal à sexta-feira e deixou de ser “um problema”. Foi-se o “problema” que era o Director do Público. Agora, que o “problema” Marcelo Rebelo de Sousa começou a ser resolvido na RTP, o Primeiro Ministro de Portugal, o Ministro de Estado e o Ministro dos Assuntos Parlamentares que tem a tutela da comunicação social abordam com um experiente executivo de TV, em dia de Orçamento, mais “um problema que tem que ser solucionado”. Eu. Que pervertido sentido de Estado. Que perigosa palhaçada.
Nota: Artigo originalmente redigido para ser publicacado hoje (1/2/2010) na imprensa.
8 comentários:
Eu e o Nuno Santos só nos chibamos ao jornalista Crespo, porque o Sócrates apanhou-nos a almoçar juntos e disse que ia contar ao Carrilho!
FAz um resumo que o pessoal não tem vida para isto.
Pelas linhas q li, parece mais do mm.... Portugal realmente precisa de uma ditadura!! :P
Mas vale a pena ler. De qualquer forma o resumo mais sucinto que consigo fazer é: Portugal de Sócrates = Venezuela de Chavez.
Mas se se ler apenas o texto do final, da autoria de Mário Crespo e que foi censurado, fica-se com uma ideia bastante...
Já agora tb é engraçado o texto "o palhaço" escrito à moda de Almada Negreiros no seu manifesto anti-dantas, ressalvadas as devidas diferenças, nomeadamente por não ter conseguido descortinar a sua autoria...
eu por acaso não vou muito com o Crespo e até acho que ele anda maio tolinho, mas se o Socrates acha o mesmo, pelo mesmo não devia dizer na praça pública
Prova disso Blue, foi o homem fazer esta tempestade apenas e só por terem escutado (e s calhar até mal), uma conversa d almoço num restaurante...
Manias d perseguição...
Muito bom o comentario do Sami! Tipico de um director lloolll
Eu tenho muito boa consideração pelo Mario Crespo e fico incrédulo com tudo isto. Começo-me a preocupara a sério com o estado de coisas em PT (já nem falo a nível económico!)
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