quinta-feira, 10 de junho de 2010
O traidor Toni
O traidor Toni
MIGUEL ESTEVES CARDOSO
N'O JOGO de anteontem, soube que Toni, por ser muito amigo de Eriksson, vai ajudá-lo a preparar a selecção da Costa de Marfim para enfrentar Portugal. No fundo, vai contar-lhe quais são as nossas fraquezas e como é que os jogadores marfinenses podem explorá-las.
Carlos Queiroz foi magnânimo, como tem sido toda a gente: é natural; Toni é um profissional; isto no futebol é mesmo assim; é um privilégio para Toni participar num Mundial, mesmo como conselheiro.
Fui arrastado pela vaga de fundo, embora me tivesse ficado atravessado. Mas quando vi a fotografia dele n'O JOGO de ontem, sorridente debaixo do bigode e atrás do carrinho das malas aviadas para Joanesburgo, voltou-me a espinha à boca.
A legenda da foto era brilhante: "'INIMIGO' - Toni partiu ontem para a África do Sul para ajudar o seleccionador da Costa do Marfim, Sven-Goran Eriksson, na observação e análise dos rivais".
Ao lado, muito a propósito, estava a notícia animadora do empate da Costa de Marfim com a 10ª melhor equipa da II Divisão do gigantesco país da Suíça, o Lausana.
Tal como a mentira de não fazer diferença que Drogba não jogue contra Portugal - pausa para vertermos uma lágrima sobre a lesão do rapaz -, este consenso acerca do profissionalismo de Toni também não é sincero.
O futebol está tão comido pelo dinheiro, pelos agentes e pela ganância descarada que se esconde atrás da palavra "profissionalismo", já de si duvidosa. Já não existe amor à camisola senão aquela que leva futebolistas de grande talento a desafiar os clubes que lhes pagam fortunas - e a arriscar o coiro - só por causa da nacionalidade, pelo facto de serem portugueses ou marfinenses.
Deixei de gostar de Toni. É um traidor. A não ser que esteja a dar conselhos errados ao sueco - coisa de que, no fundo, suspeito e espero. A grande qualidade dele, como benfiquista, era ser leal. Grande jogador ou treinador, nunca foi. Pois essa única qualidade evaporou-se.
Eriksson é, como todos os treinadores que querem trabalhar têm de ser, um vendido. Muito confessou ser benfiquista e patriota inglês, entre outras profissões de fé. Que laço sentimental o unirá à Costa de Marfim?
Toni nem sequer tem a desculpa de ser treinador da Costa do Marfim. Nem sequer - pausa para gargalhadas - foi chamado para analisar os pontos fracos do Lausana.
Daqui apelo a Toni que não partilhe com Eriksson o que sabe sobre a selecção portuguesa e o futebol em geral.
Ou, pensando melhor, que partilhe tudo o que sabe. Que será pior para a Costa do Marfim e melhor para Portugal.
in OJOGO
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2 comentários:
Eheheh
Muito bom!! Acho que concordo com o ponto de vista dele.
Este Miguel Esteves Cardoso tem cronicas bem potentes sobre quase TUDO (apenas na politica é um bocado extremista, alem de monarquico)...
Ele escreveu uma cronica potentissima que era sobre o "portugues que chega a Chefe da fotocopiadora"...lol...
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