Não se pode apagar a história

Quando temos vergonha do que produzimos, mesmo que isso se tenha transformado num êxito absoluto é mau, muito mau.

A SIC festejou o seu 15º aniversário, nas suas recordações do passado, passou uma série de programas que tiveram êxito na história da televisão, mas incrivelmente esqueceu-se de um dos mais célebres: “Os Donos da Bola”.

Como todos sabemos, este programa que era exibido às sextas-feiras ao final da noite e se prolongava até altas horas da madrugada teve sempre um “share” elevadíssimo, dos mais altos de todos os programas da SIC e durou quase 7 anos. Era polémico, com toda a certeza e porque o povo gostava. Se todos os viam era porque era bom e dizia muitas verdades hoje escondidas pelos órgãos de Comunicação Social. Os jornalistas que faziam parte desta equipa foram alvo de dezenas de processos judiciais, ganharam-nos todos. Apenas um, cujo assistente foi António Oliveira não foi ganho, muito embora noutros, com base na mesma história, o “caso Paula”, tivessem sido ganhos.

Era um programa sem vergonha e de cara destapada. Sem interesses encobertos e que acabou no seu momento mais alto de audiência. Na quinta-feira que antecedeu a decisão de retirar do ar este programa, alguma gente muito bem informada, sabia que nesse dia, um jornalista que trabalhava nesse programa, estava acompanhado com dois inspectores da Polícia Judiciária, no caso bem conhecidos, Eurico Cruz e Sacramento Monteiro, a quem ia entregar provas de que havia corrupção muito alta no nosso futebol, envolvendo pessoas que nessa altura, em 1999, e agora, estavam muito bem colocadas. A operação abortou eram 3 horas da madrugada já de sexta-feira com a informação de que “Os Donos da Bola” já não iria para o ar nessa noite.

Nessa madrugada de quinta-feira poderia ter-se feito história e caído muita gente importante e hoje, com toda a certeza, o nosso futebol estaria muito mais limpo. Não se fez história e a SIC apagou a sua história, quando devia ter orgulho daquilo que produziu porque lhe deu “shares” elevadíssimos